Ab (Abaddon) e Zab (Zabraxas) são dois demônios que possuíram os corpos de uma dupla de bandidos após eles morrerem em um acidente provocado por Spawn. Sua missão era libertar Urizen, o Deus Negro, e assim iniciar o fim do mundo. Para isso, eles realizaram um sacrifício humano e assim criaram um portal para libertar a criatura, a qual foi derrotada por Spawn e Ângela (para mais detalhes sobre esta fenomenal batalha leia as edições #95 a #100 publicadas no Brasil pela Editora Abril).

Assim como diversos personagens que aparecem nas histórias de Spawn, Ab e Zab também foram baseados em figuras “reais”. Nesta matéria vamos falar da origem de cada um destes seres conhecidos pelos estudiosos em ocultismo.

Abadom, O Destruidor

Abaddon, ou melhor, Abadom, é o nome hebreu do demônio que aparece no livro do Apocalipse 9:11. Também chamado de Apoliom em grego, o nome significa destruição e ele governa o Grande Abismo além de ser o senhor dos gafanhotos.

Segundo a Bíblia, quando o anjo do Apocalipse veio para anunciar o Fim dos Tempos e tocou a quinta trombeta, uma estrela caiu do céu em direção à terra e foi aberto um abismo pelo qual saiu uma nuvem de gafanhotos que possuíam cauda de escorpião e rostos de homens. Ao se espalharem pela terra foi-lhes proibido causar qualquer dano à natureza mas somente àqueles que não eram fiéis à Deus. Durante cinco meses estes gafanhotos os atormentariam mas esta tortura não seria seguida de morte pois esta ser-lhes-ia negada.

No Talmud (Er. 19a) Abadom é relacionado ao segundo dos setes nomes de Geena (uma das designações do Inferno) enquanto o Midrash Konem o coloca como o segundo departamento deste local.

Combate de um cristão contra Apoliom (Abadom). Extraído do livro O Peregrino, de John Bunyan

Por significar destruição ou perdição, o termo Abadom também aparece em outros livros da Bíblia, embora não esteja relacionado diretamente a um demônio:

Jó 26:6 – “O Sheol (mundo dos mortos) está nu diante dele, e a Perdição (Abadom) não tem o que lhe cubra.”

Jó 28:22 – “A Perdição e a Morte dizem: com os nossos ouvidos ouvimos um rumor dela.”

Jó 31:12 – “Pois é fogo que consome até a destruição, e desarreigaria toda a minha renda.”

Salmos 88:11 – “Será anunciada a tua benignidade na sepultura, ou a tua fidelidade na perdição?”

Provérbios 15:11 – “O Sheol e Abadom estão diante de Jeová; quanto mais os corações dos filhos dos homens!”

Provérbios 27:20 – “Sheol e Abadom nunca se fartam; e os olhos do homem nunca se saciam.”

Abadom aparece também na Bíblia Hebraica onde é usado para designar um abismo sem fim e que se localiza próximo ao sheol que é o mundo dos mortos, local onde todas as almas vão após sua morte e é usado como local de purificação ou condenação.

Sobre a aparência do demônio Abadom não há muitas informações já que ele não é retratado fisicamente na Bíblia, porém alguns artistas contemporâneos acabam relacionando-o com o gafanhoto.

Na literatura mundial, Abadom aparece em duas obras importantes. No poema épico O Paraiso Reconquistado (IV, 264), do poeta inglês John Milton, é o nome do Grande Abismo, e no livro O Peregrino de John Bunyan, Abadom aparece como Apoliom e é o “demônio imundo” que agride o Cristão no Vale da Humilhação. Já entre os satanistas, Abadom tem destaque como um dos demônios principais. No Satanismo LaVey ele aparece no topo da lista com a alcunha de “O Destruidor”. Já na Chave de Salomão (coleção de manuscritos com feitiços antigos hebraicos com inspiração em ensinamentos cabalísticos e talmúdicos, atribuída supostamente ao Rei Salomão) Abadom é listado como o nome de Deus usado por Moisés para inundar o Egito.

Vale também destacar que outro demônio chamado Abadom apareceu Curse of the Spawn #1 e era o senhor dos gafanhotos-demônios, porém não há informações se ele tem alguma relação com o Abadom que é apresentado em Spawn #95.

Abaddon, o senhor dos gafanhotos-demônios, em Curse of the Spawn #1

Abraxas ou Abrasax

Quanto ao companheiro de Ab em Spawn, não há nenhum demônio ou entidade na literatura mundial chamada Zabraxas, porém existe uma referência a uma palavra chamada Abraxas e que possui bastante documentação. Os motivos que levaram Todd McFarlane a alterar o nome original são incertos, mas como Abadom e Abraxas começam com “Ab” talvez o roteirista tenha acrescentado a letra “Z” para diferenciá-los ao abreviar seus nomes para Ab e Zab, além de também fazer um paralelo entre a primeira e a última letra do alfabeto, simbolizando o início e o fim, que na Bíblia é descrito como Alfa e Ômega.

Abrasax (do original grego ΑΒΡΑΣΑΞ) era uma palavra com significado místico no sistema gnóstico de Basilides (professor religioso da Alexandria entre os anos 117 e 138 d.C.) e é encontrada em textos como o Evangelho Copta dos Egipcios e nos Papiros Mágicos Gregos além de ter sido gravada em gemas que ficaram conhecidas como Pedras de Abraxas que são consideradas amuletos. Com o tempo a palavra Abrasax foi alterada para Abraxas devido a alguma confusão na conversão do grego para o latim pois as letras Sigma (Σ) e Xi (Ξ) acabaram trocando de lugar. Supõe-se que Abraxas seja a origem da palavra mágica Abracadabra, muito utilizada hoje em truques de ilusionismo mas que no passado era usada para cura de enfermidades. No século II alguns gnósticos, que viam a matéria como algo maligno e o espirito como bom, mantinham a ideia de que a salvação só poderia vir através do conhecimento exotérico (gnosis) e personificaram Abrasax, adorando-o como o deus-sol. Basilides via Abrasax como a deidade suprema e a fonte de emanações divinas. Na cosmogonia gnóstica cada letra de Abrasax representa um dos sete planetas clássicos: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

Segundo o bispo grego Irineu de Lyon (130-202 d.C.) existem 365 céus cujo último nível seria o céu visível e é o local onde vivem os criadores do nosso mundo. O governante de todos estes níveis seria Abrasax por conter em si mesmo 365 números, relacionando-o aos dias do ano. Isto se deve ao fato de que cada letra grega possuir um valor, e ao somá-las obtemos 365.

A = 1B = 2P = 100A = 1Σ = 200A = 1Ξ = 60

Já o bispo Epifânio de Salamis (310 – 403 d.C.) conceitua Abrasax como o “poder acima de tudo e o primeiro principio” e “a causa e o primeiro arquétipo de todas as coisas” e se refere ao numero 365 também como o número de partes do corpo humano. Isto se relaciona ao conceito exposto no livro Prescrição contra Heréticos de Tertuliano (160-220 d.C.) que diz que Abrasax deu origem a luz Mente (chamada Nous) que é o primeiro de uma série de poderes, além de ter criado o mundo e também ter sido o responsável por enviar Cristo para a Terra.

O Evangelho Copta dos Egípcios, também conhecido como Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível, se refere a Abrasax como um Aeon (emanações sucessivas da divindade que os gnósticos concebiam como intermediários necessários entre os mundos espiritual e material). Ele vivia com Sophia (sabedoria) e seu papel era corrigir o erro da ignorância do mundo das coisas materiais. Por último o psicólogo Carl Jung escreveu um tratado em 1916 chamado Sete Sermões aos Mortos que colocava Abrasax como um ser acima de Deus e Satã e que combinava-os em um único ser (o chamado Demiurgo).

Abrasax também já foi considerado um deus egípcio e um demônio. A Igreja Católica considerou que Abraxas era um deus pagão e depois rotulou-o como um demônio conforme documentado no Dictionnaire Infernal, escrito por Jacques Auguste Simon Collin de Plancy e publicado em 1818. Na obra, Abraxas é rotulado como o “Deus Supremo dos Basilidianos” , os quais são descritos como “hereges do segundo século” e é mostrado como uma figura horrenda. Em uma declaração final sobre os basilidianos, de Plancy declarou que Jesus Cristo era apenas um “fantasma benevolente mandado a Terra por Abrasax.”

As Pedras de Abraxas

Nas antigas seitas gnósticas haviam amuletos com a palavra Abraxas gravada além de sua personificação. Conhecidas como Pedras de Abraxas, estes amuletos eram usados como repositórios mágicos e foram encontradas em grande quantidade ao longo da história. Geralmente, além da palavra vir gravada, também trazia figuras mitológicas associadas à Abraxas. Em sua maioria trazia a imagem de um basilisco ou quimera, um ser fantástico com cabeça de galo, corpo de homem e pernas de cobra, e em grande parte trazia um chicote na mão. Não há informações sobre o real significado para a imagem ou o objetivo das confecções das pedras.

Um exemplo de Pedra de Abraxas
Gravura de uma pedra de Abraxas contendo o basilisco e a palavra mágica

Referência:

https://www.christianity.com/wiki/angels-and-demons/who-is-abaddon-in-the-bible.html

https://www.bibliaonline.com.br/acf/ap/9

https://pt.wikipedia.org/wiki/Abadom

https://www.britannica.com/topic/abraxas-sequence-of-Greek-letters

https://pt.wikipedia.org/wiki/Abraxas

https://www.ocultura.org.br/index.php/Abraxas

https://www.oarquivo.com.br/extraordinario/simbolos-e-objetos/1385-abraxas.html


Leia as matérias anteriores desta série “Personagens de Spawn no mundo real”:

Parte 1 – Conde Cogliostro

Parte 2 – John Gacy, o Palhaço Assassino

Parte 3 – Mammon

Parte 4 – Croatoan

Parte 5 – Thammuz

Parte 6 – O Abajur de Pele Humana

Parte 7 – Morana

Parte 8 – Abadiel


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