Personagens de Spawn no Mundo Real – Parte 3 – Mammon

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1858

Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon.

Lucas 16:13

Vários seres que aparecem nas aventuras de Spawn são baseados em anjos, demônios e outras criaturas originárias da Bíblia, mitologia e outras lendas. Um destes personagens é Mammon, demônio que surgiu em Spawn #87 e que acabou se tornando um dos maiores inimigos de Al Simmons.

A primeira aparição de Mammon, ainda sem nome, ocorreu em Spawn #87. Arte de Greg Capullo

Inicialmente chamado apenas de Distinto Cavalheiro (nos Estados Unidos ele era chamado de Mr. Hell), ele maquinou vários eventos envolvendo Spawn e outros humanos com a intenção de alcançar o trono do Inferno e assim conquistar o universo através do hellspawn perfeito, que se concretizou na forma de Morana, filha de Al Simmons e Wanda Blake. Sua real identidade só foi revelada no videogame Spawn: Armageddon, o qual foi apresentado como aliado do herói.

Foi no jogo Spawn: Armageddon que ficamos sabendo que o “Distinto Cavalheiro” chamava-se Mammon

Todd McFarlane utilizou a palavra hebraica mamon (מָמוֹן) que significa dinheiro ou cobiça para criar seu personagem, um homem bem vestido e com fala polida, demonstrando assim ser alguém muito rico. A palavra mamon apareceu na Bíblia tanto no Evangelho de Mateus 6:24 quanto em Lucas 16:13 e foi usando por Jesus para demonstrar que ninguém conseguiria adorar a Deus e a riqueza sem que um dos lados fosse subjugado. Isto o relaciona assim a um dos 7 pecados capitais, a Avareza (cuja virtude oposta é a Caridade). Porém, a palavra veio emprestada do grego helenístico μαμωνᾶς e do aramaico מָמוֹנָא, mamona, que significa riqueza ou lucro.

Mamon por Collin de Plancy (1793-1887) para o seu livro Dictionnaire Infernal

Como o passar dos anos, principalmente durante a Idade Média, Mamon acabou adquirindo forma e assim passou ser representando como um dos sete príncipes do Inferno relacionando-o com a cobiça. Sua forma geral era a de um nobre com aparência deformada carregando um grande saco de ouro ou de um abutre com grandes dentes que estraçalha as almas humanas que comprara. Gregório de Níssa (335 dC – 394 dC) afirmava que Mammon era outro nome para Belzebu enquanto São Cipriano (200-210 dC – 258 dC) e São Jerônimo (347 dC – 420 dC) relacionam a riqueza e a ganância a um mestre que escraviza os humanos. O arcebispo João Crisóstomo (349 dC – 407 dC) personifica Mamon com a ganância. Já o filósofo Pedro Lombardo (1100 dC – 1160 dC) disse “As riquezas são chamadas pelo nome de um demônio, Mamon, pois Mamon é o nome de um demônio, pelo qual as riquezas do nome são chamadas de acordo com a língua síria”.

Mamon e seu escravo, gravura de 1896 por Sascha Schneider

Desta forma, há a suspeita de que havia um ídolo cultuado na Síria relacionado à riqueza. O teólogo Albert Barnes (1798 – 1870) afirma em suas notas sobre o Novo Testamento que Mamon era uma palavra siríaca para um ídolo adorado como o deus das riquezas, semelhante ao deus grego Plutão , mas ele não citou nenhuma autoridade para a declaração.

A Adoração de Mamon, pintura de 1909 por Evelyn de Morgan

Na literatura Mamon (e sua contraparte grega Plutão) já foi retratado várias vezes. Em O Paraíso Perdido John Milton o descreve como um anjo caído que valoriza o tesouro terreno sobre todas as outras coisas e constrói para Satã um palácio com veios de ouro ardente. Já na Divina Comédia de Dante Alighieri, Pluto (o qual é possível ser o deus-origem de Mamon) é retratado como um demônio de riqueza semelhante a um lobo, o qual foram associados à ganância na Idade Média. Tomás de Aquino descreveu metaforicamente o pecado da avareza como “Mamon sendo carregado do inferno por um lobo, chegando a inflamar o coração humano com ganância”. O lobo também aparece no primeiro canto da Divina Comédia como um dos seres que perseguem Dante na floresta escura, que representa os vícios humanos, cujo simbolismo do animal não só representa a avareza como também a Cúria Romana, detentora de riquíssimos tesouros. Já em Fausto, de Goethe, embora o demônio que faça o pacto com o Dr. Fausto seja Mefistófeles, Mamon é usado tanto para significar ouro quanto uma entidade demoníaca.

Pluto, Virgílio e Dante na Divina Comédia. Desenho por Gustave Doré

Entre os satanistas Mammon é cultuado com um deus da prosperidade, inclusive com ritos próprios para alcançar esta graça.


Referências:

https://en.wikipedia.org/wiki/Mammon

https://www.bibliaonline.com.br

https://www.wattpad.com/235612729-demonologia-mammon

http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/divinacomedia.pdf

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