Conheça tudo sobre o ser mitológico que serviu de inspiração para o personagem que foi um dos maiores desafios de Spawn
Thamuz, conhecido como “Inquisidor do Inferno”, foi um demônio que torturou Spawn durante a saga Armagedom (edições #150 até #163) e sua primeira aparição ocorreu na edição #151. Associado a Mammon (leia detalhes deste personagem aqui), o “Mestre das Torturas” capturou Spawn e o assombrou utilizando demônios na forma de seus inimigos. Porém Thamuz não só foi incapaz de subjugar a Cria do Inferno como foi morto por ele.
Para criar o seu personagem, Todd McFarlane buscou o nome de uma divindade da religião mesopotâmica chamado Tamuz – sua grafia pode variar entre Tammuz ou Thammuz – embora sua origem e personalidade sejam bem diferentes de sua contraparte dos quadrinhos.
Quem foi Tamuz?
Considerado um deus da fertilidade, Tamuz (sem “h”) incorpora os poderes para a nova vida da natureza na primavera. O seu nome tem origem na antiga Acádia onde era conhecido como Tamuzi, sendo que este veio da palavra Damu-zid (Revigorador da Criança), deus sumério-babilônico da prosperidade. Mais tarde sua forma seria alterada para Dumu-zid e, consequentemente, Dumuzi. Ele também se tornou popular na Síria e Fenícia como ‘ădõnî (meu senhor) e nas terras helenísticas como Adonis.
Segundo a lenda, Tamuz era casado com a deusa Inanna, que era conhecida como Ishtar na Acádia, e era filho de Enki e da deusa Duttur, a personificação da ovelha. Por isso seu nome possui duas variações: Ama-ga (Mãe Leite) e U-lulu (Multiplicador do Pasto), sugerindo que ele fosse a força de tudo que uma ovelha precisasse como a grama que nasce no deserto e o leite abundante.
De acordo com uma das histórias, Tamuz era morto por um javali selvagem a cada ano mas era salvo do mundo inferior por Ishtar, que trazia-o de volta à vida e assegurava uma nova primavera. Desta forma o ciclo natural era simbolizado pelo mito. Em outra história é narrado que a deusa Inanna enviava Tamuz em seu lugar para o mundo inferior e podia regressar uma vez ao ano. No antigo Egito um mito similar era contado sobre Isis e Osiris e na Grécia sobre Perséfone e Hades.
O 4º mês do ano contando do equinócio vernal (entre os meses de junho e julho), quando a vegetação começa a murchar no ar seco do verão, era chamado de Mês de Tamuz e era a ocasião de festa para encenar sua descida às regiões inferiores. Em potes cheios com terra várias ervas eram plantadas e colocadas ao sol para simbolizar a morte de Tamuz. Uma imagem de madeira de Tamuz, escondida em um dos potes, era um objeto de busca pelas mulheres. Quando elas o encontrava, o queimavam novamente ou o lançavam para a água junto com o pote e meio a lamentações. Referências explicitas a este ritual são encontradas na Bíblia (Ezequiel 8, 14), o que denota que o culto de Tamuz também foi exportado para Judá:
14E levou-me à entrada da porta da casa do Senhor, que está do lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz.
Em Isaías 17:10-11 supõe-se que o texto seja uma alusão ao ritual de Tamuz que incluem plantações de sementes de anêmona:
10Porque vocês se esqueceram de Deus, do seu Salvador, e não se lembraram da Rocha, da fortaleza de vocês. Por isso, embora vocês cultivem as melhores plantas, videiras importadas
11as façam crescer no dia em que as semearem e as façam florescer de manhã, não haverá colheita no dia da tristeza e do mal irremediável.
Embora suas primeiras menções sejam da Terceira Dinastia (2600-2334 aC), acredita-se que seu culto seja mais antigo. Seus devotos se concentravam nas cidades ao redor da área central, que eram chamadas de edin. Uma destas cidades era Bad-tibira, atualmente Madinah (ou Medina), local de um dos maiores cultos a Tamuz na Suméria.
Quando o culto de Tamuz se espalhou pela Assíria entre os anos 2000 e 1000 aC ele foi alterado de uma divindade pastoril para agricultora que morria quando a grama era cortada mas revivia quando ela nascesse.
O Culto à Tamuz
Tamuz possuía dois festivais em seu nome. Um deles celebrava o seu casamento com Inanna e uma das cerimônias, datadas entre os anos de 2112 e 2004 aC na cidade de Umma (atualmente Tell Jokha), ocorria entre os meses de fevereiro e março durante o Festival de Tamuz chamado Mês de Umma. Outra cerimônia, registrada entre os anos 2004 e 1792 aC (conhecido como período Isin-Larsa), narra o ritual de casamento onde o rei assumia a identidade do deus e assim consumia a união com uma sacerdotisa que encarnava Inanna com a esperança de fertilizar e fecundar a terra.
Já o segundo festival era dedicado à sua morte e ocorria entre os meses março e abril com muito pesar. Nesta ocasião os devotos realizavam procissões até o deserto. Entretanto na Assíria, durante o século VII aC, este lamento era realizado entre os meses de junho e julho.
Entre os textos dedicados a Tamuz havia um chamado “O Sonho de Dumuzi”, que narrava como o deus teve um sonho sobre sua morte e como veio a se tornar realidade apesar de todos os seus esforços para escapar. Um conto similar apareceu no mito sumério chamado “A Descida de Inanna” que conta como a deusa envia Tamuz como seu substituto para o mundo inferior. Sua irmã, Geshtinanna, o encontra e o mito termina com Inanna decretando que ambos devem se alternar no mundo inferior e passando metade do ano entre os vivos.
As outras facetas de Tamuz
Conforme o culto de Tamuz se espalhava pelo mundo antigo era natural que sua personalidade e atribuições sofressem alterações e até mesmo que ele sofresse fusões com outros deuses. Por exemplo havia Tamuz dos Pastores de Gado, que se distingua do Tamuz original pois sua mãe era a deusa Ninsun, a Senhora da Vaca Selvagem, e que ele próprio era imaginado como um pastor de gado. A forma agricultural de Tamuz no norte, onde ele era identificado com os grãos, talvez também tenha sido um desenvolvimento independente do deus de seu papel, atribuindo-lhe o poder da vegetação na primavera. Uma clara fusão, embora muito anterior, era a união de Tamuz de Uruk com Amaushumgalana, o poder de fertilidade da tamareira, tornando-se assim Dumuzi-Amaushumgalana.
Uma importante fusão posterior era a união de Tamuz e Damu, o deus da fertilidade que provavelmente representava o poder da seiva nas árvores e plantas na primavera. Havia também Dumuzi-Apzu – uma deusa que parece ter sido o poder nas águas subterrâneas (Apzu, com variação na escrita Apsû ou Abzû – leia o texto de apoio sobre ele), para trazer uma nova vida na vegetação, sendo que esta encarnação de Tamuz não é inteiramente muito clara.
Tamuz no Judaísmo
Conforme estudos, o culto de Tamuz se espalhou pelo mundo antigo até chegar à Judá onde ele era reverenciado, principalmente entre as hebreias. Durante o exílio da Babilônia os judeus nomearam o quarto mês do calendário hebreu como Tamuz, correspondendo os meses de junho e julho e dá início à estação do verão chamada tekufá. Os três meses desta estação, Tamuz, Av e Elul, correspondem às três tribos do acampamento de Reuven – Reuven, Simeon e Gad – que estavam situadas no sul.
Segundo conta-se, Tamuz é o mês do pecado do bezerro de ouro (Êxodo 32: 1-8) que resultou na quebra das Tábuas da Lei. Naquele mesmo dia, 17 de Tamuz, têm início o período de três semanas (terminando a 9 de Av) que assinala a destruição do Templo Sagrado em Jerusalém.
Tamuz na literatura
Quando as histórias de Tamuz alcançaram o Ocidente despertaram a atenção de vários autores, entre eles John Milton que transformou Tamuz em um general do exército do Inferno e o inclui em seu poema épico O Paraíso Perdido o qual, provavelmente, serviu de inspiração para que Todd McFarlane o incluísse nas aventuras de Spawn:
Chega Tamuz depois: anual ferida
Em Lebanon ostenta, e assim atrai
As virgens sírias a chorar-lhe a morte
Em cantigas de amor um dia estivo,
Enquanto as águas do tranqüilo Adônis
De seu natal rochedo ao mar purpúreas
Vão correndo, tingidas (como é crença)
Pelo sangue que verte da ferida
Todos os anos o ídolo falsário;
Este amoroso canto o ardor ateia
De Sião nas filhas (cujos vícios torpes
Viu Ezequiel dos templos nos alpendres,
Quando, pela visão de todo abertos,
Seus castos olhos de Judá insana
Presenciaram a negra idolatria).
O poeta inglês Oscar Wilde também cita o nome de Tamuz em seu poema Charmides (sem tradução em português), de 1881:
And then each pigeon spread its milky van,
The bright car soared into the dawning sky
And like a cloud the aerial caravan
Passed over the Ægean silently,
Till the faint air was troubled with the song
From the wan mouths that call on bleeding Thammuz all night long
Leia as outras partes desta série de Personagens de Spawn no Mundo Real:
• Parte 1 – Conde Cagliostro
• Parte 2 – John Gacy (inspiração para Palhaço/Clown e Billy Kincaid)
• Parte 3 – Mammon
• Parte 4 – Croatoan (e o mistério da Ilha de Roanoke)
Fonte:
• Britannica Online Encyclopedia – https://www.britannica.com/print/article/582039
• Encyclopedia.com – https://www.encyclopedia.com/philosophy-and-religion/ancient-religions/ancient-religion/tammuz
• PT.Chabad.org – https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1985300/jewish/O-Ms-de-Tamuz.htm
• Wikipédia – https://en.wikipedia.org/wiki/Dumuzid
• Ebook Brasil – http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/paraisoperdido.html
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