No dia 8 de abril de 2020, Todd McFarlane lançou sua primeira campanha de financiamento coletivo através da plataforma Kickstarter para produzir seu novo colecionável, uma versão remasterizada da primeira figura de ação do Spawn, lançada em 1995. Mais detalhes sobre a campanha podem ser vistos na matéria que lançamos aqui no Spawn Brasil.

Em entrevista com o jornalista Rob Salkowitz da Forbes para promover a campanha, Todd explicou a situação atual do filme e expôs suas opiniões sobre os problemas que a indústria de quadrinhos está enfrentando diante da crise do coronavírus, COVID-19.

Conte-me sobre o Kickstarter da figura de ação original do Spawn. Por que seguir o caminho do financiamento coletivo?

R: Estando no mercado por mais de 30 anos, eu utilizei todos os outros meios. Vendi por sites, pequenas empresas, lojas especializadas de colecionáveis e, obviamente, grandes varejistas. Financiamento coletivo eu nunca fiz. É uma experiência. Nós estivemos conversando sobre isso há um tempo e agora pareceu um bom momento para testar. Agora que colocamos em funcionamento, teremos informações para saber o que funciona e o que não funciona.

Sucesso alcançado poucas horas após início. Screenshot de pouco mais de um dia de financiamento!

O fato é: temos que fazer algo. As coisas mudaram na nossa indústria, obviamente, tanto na área de brinquedos quanto na de quadrinhos. Não estão sendo lançados novos quadrinhos. Essa é uma situação realmente perigosa, não apenas para nós, mas para qualquer negócio que depende de hábitos de consumo estabelecidos. Se você der ao seu cliente a chance de quebrar o hábito, ele pode não voltar.

Eu entendo como nós chegamos até esta situação e o motivo de estarmos parados, mas mesmo que nosso distribuidor não esteja funcionando, nós não podemos apenas sentar e não fazer nada. Então, eu estou tentando fazer algo. Lembre-se, mesmo que nós não estejamos frequentando lojas ou cinemas neste momento, geeks sempre serão geeks! Então, precisamos encontrar meios de manter o que nós fazemos na cabeça dos clientes como pudermos.

Você produziu mais de 300 edições consecutivas de Spawn, alcançando um recorde de criador com direitos de criação. Você vê isso continuar indefinidamente? Você ainda está empolgado em contar estórias com esse personagem no seu universo?

R: Eu vou para o túmulo com Spawn! Eu sei que algumas pessoas seguem seus caminhos com ideias certas, que são decisões criativas. Eu tenho quase 30 anos desse personagem. Eu não me sinto nem mesmo cansado. E é uma área dos negócios que eu tenho controle. Eu não tenho que pedir a permissão de ninguém. Eu não tenho que lidar com influências externas. É o meu refúgio quando eu começo a questionar a sanidade dos meus colegas humanos. Posso apenas fazer minhas próprias coisas com meu próprio personagem. Isso não me impede de ter outras ideias, mas eu gosto de ter essa opção ali para mim.

Capas da última edição de Spawn lançada antes da explosão do coronavírus.

Qual é a situação do longa-metragem de reboot do Spawn? Parece que você atingiu um obstáculo no mês passado. Os fãs ainda podem esperar pelo filme com Jamie Foxx e Jeremy Renner ou ele entrou em espera?

R: Essas informações não estavam corretas. Existe alguém, um grande talento por trás das câmeras, que nós estávamos de olho, mas não deu certo. Acontece. Mas nós não perdemos ninguém porque nunca o tivemos. Então, estamos atrás de outra pessoa agora. Teremos um grande anúncio se conseguirmos a pessoa que estamos procurando. Com isso em mente, nós não estamos parados. Jamie [Foxx] talvez esteja até mais empolgado que eu. Mesmo que sejamos apenas nós dois, seremos Jamie e eu!

Jamie Foxx e Jeremy Renner garantidos como Al Simmons e detetive Twitch Williams.

Você está em contato com serviços de streaming para levar Spawn ou outras propriedades para as telas neste formato?

R: Nós conversamos sobre isso. As pessoas perguntam, “Por que não uma série de TV ao invés de um filme?”. Em parte, porque eu nunca dirigi um longa-metragem. Eu tinha essa ânsia para realizar. Esta pode ser minha única chance. Segurei os direitos para me manter ligado ao projeto. Se funcionar, nós ainda podemos levar para a televisão. Podemos fazer um longa e lançar em uma plataforma de streaming? Claro, talvez. Mas existe algo especial em ter seu personagem na telona, considerando que isso ainda é uma opção no final.

Ainda não é a hora de Spawn na Netflix, pessoal!

Nesta época onde a indústria cinematográfica está buscando fortemente conteúdo garantido, por que essa propriedade em particular tem se mostrado tanto um desafio?

R: Existem alguns motivos. Eu escrevi a primeira versão do roteiro. Se eu tivesse feito meu trabalho escrevendo um roteiro que importasse, ele teria sido vendido. Eu tenho culpa por esse lado, para começar. Depois, existe o medo e o risco de financiar um escritor iniciante, um diretor iniciante. É por isso que eu procurei Jason Blum para produzir e adicionei Jamie e Jeremy para adicionar qualidade. Meu objetivo é continuar adicionando esse tipo de pessoas com qualidade em todas as áreas. Quanto mais eu conseguir adicionar essas pessoas, menos eu serei relevante como um risco. Esperamos que os estúdios vejam que estou planejando de acordo [com a indústria] e seguindo a ideia em um formato de negócios que reduz riscos de retorno e, em algum momento, nós seguiremos em frente.

De volta aos eventos atuais, este é um momento terrível para a indústria de quadrinhos e colecionáveis, com tantos varejistas fechando e distribuidores interrompendo operações. Você passou por um momento semelhante no final dos anos 90… você tem alguma opinião em como os varejistas podem amenizar a situação?

R: Veja, nós tivemos períodos de queda no passado. Perdemos muitos clientes nos anos 90. Agora é diferente. Agora nós temos zero clientes e zero novos quadrinhos sendo impressos. Como uma indústria, nunca ficamos diante de um zero antes. É completamente sem precedentes. E não sabemos aonde isso vai ou quando vai acabar. Podemos tentar salvar os varejistas o quanto for, mas é difícil se os clientes não podem ir às lojas. Tudo exige demanda. Qual será a demanda quando reabrirmos? As pessoas serão mais conservadoras quanto a gastar? Elas decidirão que podem viver sem [quadrinhos] por três ou quatro meses, então talvez não precisem mais gastar dinheiro com isso? Ou alguns terão dinheiro para comprar coisas novas, mas as lojas estarão falidas? Existem vários aspectos desconhecidos.

Comic shops passam por dificuldades durante pandemia do coronavírus.

Existe algo que as editoras possam fazer?

R: Eu acho que a indústria precisa de uma mensagem consistente. Qualquer que seja, certa ou errada, precisamos ser consistentes, mesmo que tenhamos que nos ajustar. Mas nós realmente precisamos falar com uma só voz, não quatro ou cinco editoras diferentes apresentando quatro ou cinco planos e métodos diferentes. Isso acaba confundindo os varejistas e consumidores. Se me colocarem na liderança – e ninguém quer isso, eu entendo! – aqui está o que eu faria. Eu pegaria a Image, Dark Horse, Marvel e DC, as empresas com 90% do topo do mercado, e faria uma mensagem nossa como uma frente unificada, uma mensagem.

A união faz a força: Image, Darkhorse, Marvel e DC comandam 90% do mercado e poderiam se unir para amenizar o impacto da crise, segundo McFarlane.

No mínimo eu diria que, certamente entre os líderes, nós podemos entregar 10 quadrinhos em formato digital para download de graça. Os principais títulos, aqueles que as pessoas realmente querem ler. Nós temos orçamento para isso. Não vai necessariamente ajudar os varejistas, mas não podemos permitir que os clientes percam esse exercício de serem geeks, de terem sua dose regular para manter sua “geekcidade” com quadrinhos, ao invés de substituírem por algo como streaming ou videogames. Porque eles vão. Precisamos envolver as pessoas nos quadrinhos e se não estivermos produzindo quadrinhos, eu não sei como mantê-las interessadas.

As pessoas dizem, “Eles precisam ser gratuitos? Não poderiam custar 99 centavos?” E, para mim, a resposta é sim, de graça. Nós crescemos bem [como mercado], temos orçamento para dar algo em retorno. Então, quando isso acabar, podemos fazer 3-5 eventos para dar motivo para as pessoas voltarem às lojas. Talvez pudéssemos nos organizar ao menos uma vez, para que cada empresa tenha sua vez nos holofotes. Talvez fazer alguns crossovers entre empresas, para tornar “sexy”. Talvez a indústria será reduzida, depende de por quanto tempo isso continuará. Não sabemos. Mas o que sobrar será o novo padrão. Vamos precisar nos ajustar e trabalhar a partir daí.

Sessões de autógrafos em eventos são um dos motivos para a manutenção dos quadrinhos em formato físico, segundo Todd.

Varejistas demonstraram preocupação de que as editoras publicarem novo conteúdo digitalmente acabaria os prejudicando. Por outro lado, você tem fãs sentados em casa, com fome de conteúdo novo, que provavelmente pagariam por versões digitais por enquanto, o que ajudaria editoras e criadores. Qual sua opinião sobre como isso deveria funcionar?

R: Eu não concordo. Não fazer nada não pode ser a resposta. Se todos ficarmos parados e prendermos nosso folego, como isso vai melhorar o que estamos fazendo agora?

Se eu lançar Spawn em formato digital de graça ou com desconto por alguns meses, isso significa que clientes não vão comprar essas edições em loja? Talvez não. Mas eu falo para os lojistas, não se preocupem com as edições 307, 308 e 309, que serão lançadas quando estiverem fechados e não poderão encomendar cópias impressas de toda forma. Os fãs retornarão para a 310, quando as coisas reabrirem. Eles vão voltar pelo Batman ou o que quer que eles estejam lendo. Quem se importa com o número? É um quadrinho que você está vendendo pelo mesmo preço. Quem se importa se as pessoas comprarem de outra maneira enquanto isso?

Algumas das capas das edições 307, 308, 309 e 310 de Spawn. Você voltaria por esta capa fodástica com o Spawn Pistoleiro?

Aqui vai o que eu sei sobre viciados. Quanto mais tempo eles ficarem sóbrios, mais fácil continuarão sóbrios. Não queremos que nossos clientes quebrem esse hábito. Os clientes preencherão seu tempo de alguma forma. Por que deixar um competidor preenchê-lo com streaming ou jogos? Nós precisamos preenchê-lo.

Nós, como as empresas, temos o poder de fazer isso acontecer. Lembre-se, lá em 2011, os lojistas não queriam que os quadrinhos digitais fossem lançados no mesmo dia que os impressos, achando que isso iria condenar a indústria. Eles estavam errados. Ajudou as vendas! Temos uma indústria que foi construída em cima de encontros semanais, convenções, onde pessoas vão e têm seus quadrinhos autografados, não seus iPads. Eles precisam de algo físico. Isso nunca acabará. Nós não podemos comparar com outros modelos, como música, e ficarmos com medo do que aconteceu com as lojas de discos por causa do digital. Nós temos essa singularidade e podemos valorizar e nos aproveitar.

Olhando à frente, existe alguma forma de assegurar o futuro?

R: Nós temos um distribuidor para imprimir os quadrinhos e eles decidiram, por questões de segurança, cessar as operações. Por estarmos todos atados à uma pessoa, essa decisão afeta toda a indústria. Essa foi provavelmente a decisão correta, mas não é saudável a longo prazo que uma pessoa detenha o destino de uma indústria inteira. Devíamos fazer uma reavaliação quando tudo isso passar e nos perguntar algumas duras questões sobre como nos proteger disso acontecer novamente.

Diamond Comic Distributors, Inc., empresa responsável pela impressão dos quadrinhos nos EUA.

Esse é o posicionamento do nosso querido Todd quanto as novidades que envolvem Spawn. E aí, o que você achou? Tá faltando grana (e bote grana nisso) para comprar o novo colecionável do Spawn para você também? Gostaria de outro ator como Al Simmons ou Twitch? Crossover das grandes empresas… será que podemos sonhar mais uma vez com Spawn + Spidey? Comente sobre abaixo ou nas nossas redes sociais e não esqueça de compartilhar a matéria com seus amigos!

Tradução e adaptação: ALV SIMMONS

Fonte: Forbes.com


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