Conheça a história da turma Irritação, que adotou o Soldado do Inferno (e o Palhaço) em suas fantasias
Embora o Carnaval seja em fevereiro, muito grupos passam o ano inteiro se preparando para a festa, como é o caso das escolas de samba e blocos, e uma destas tradições que é encontrada no estado do Rio de Janeiro são os bate-bolas, também chamados de clóvis.
Surgidos no início do século XX através do primeiros imigrantes, os clóvis (derivado da palavra inglesa clown, que significa palhaço) foram inspirados nos palhaços da Folia de Reis e sua luxuosidade vem dos carnavais franceses.
Já o nome “bate-bola” se deve ao fato de que, inicialmente, retirava-se a bexiga de um boi ou porco e inflava-a para se tornar um balão. Ao amarrá-la na ponta de uma vara, os foliões iam às ruas batendo com as bexigas no chão, criando um barulho ensurdecedor misturado com um cheiro fétido. Hoje as bolas usadas são feitas de plástico ou borracha.
E assim os bate-bolas, usando luxuosas fantasias feitas de cetim e plumas, escondendo o seu rosto atrás de máscaras horripilantes como num colorido Halloween, saem às ruas em grupos, fascinando os adultos e assustando (no bom sentido) as crianças. E foi em um desses grupos de bate-bolas que encontramos uma curiosidade: a inspiração de suas fantasias veio do Soldado do Inferno Spawn e seu arqui-inimigo, o Palhaço!
A turma Irritação, localizada no bairro de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, é um desses grupos de bate-bola, porém com a particularidade de usar a imagem do Spawn como seu estandarte e o rosto do Palhaço em suas máscaras. Fundada em 2000 pelos amigos Marlon Ferreira e Fábio, ela surgiu a partir de uma outra turma de bate-bolas.
“Na época existia uma outra turma, porém houve uma discussão com um dos fundadores. Com isso teve uma separação”, conta Bruno José, conhecido como Soldado, que trabalha na confecção das fantasias. “Dos vinte integrantes, Marlon e Fábio saíram para criar a própria turma e deram o nome de Irritação”.
Inicialmente a turma ainda não tinha nenhuma relação com Spawn, até que um dos fundadores surgiu com a ideia de sugerir que o personagem pudesse se tornar o mascote da Irritação.
“Nos três primeiros anos não tínhamos um símbolo pois não sabíamos se a turma iria dar certo. Foi então que houve a primeira votação para escolher um e o Marlon, que é muito fã de Spawn, colocou sua ideia em prática, e junto com o Fábio que também gosta dele houve a votação que foi aceita imediatamente. O Marlon é tão fã que tem uma tatuagem do Violador na perna!”
Alguns dos logotipos usados nas fantasias e bandeiras, todos com referência ao Spawn ou o Palhaço
Porém a escolha do Palhaço para ilustrar as máscaras não foi somente para homenagear o vilão das histórias do Spawn como Soldado explica: “Uma das particularidades dos bate-bolas é assustar as pessoas como no Halloween, mas não é um susto para traumatizar nem com maldade, é um terror de brincadeira. E a imagem do Palhaço realmente assusta, por isso todos gostam. Nosso primeiro muro grafitado era com o desenho dele.”
Com quase 20 anos de atividade, a Irritação conta hoje com 142 componentes. Destes, 32 são crianças e 25 são mulheres, um número expressivo em uma tradição que, culturalmente, é formada por homens. Com esta bagagem, a turma tornou-se a mais antiga da região. Com tantas pessoas é difícil precisar quem conhecia ou era fã de Spawn antes de ingressar no grupo.
“A turma é grande, e muitos só aparecem nas reuniões próximas ao Carnaval. Mas sei que alguns saem pois gostam de se vestir de bate-bola e outros porque gostam de Spawn. Tem gente que vem até de outras regiões, então é difícil saber quem é fã e que não é. Além disso, muito dos integrantes são novos, na faixa entre 16 e 20 anos, então não acompanham a revista na época. Porém, por causa da Internet, uma grande parte ficou sabendo quem era o personagem.”
Soldado conta também que, embora Spawn e o Palhaço ilustrem a bandeira da turma, nem sempre o tema nas fantasias são os mesmos, e que toda a preparação já começa com um ano de antecedência.
“Assim que acaba o Carnaval são feitas reuniões para eleger o tema do ano seguinte, que pode ser do Mickey ou qualquer outro personagem. Após as reuniões de escolha do tema começa o processo de confecção das fantasias, geralmente em junho, e o prazo do término é novembro. Durante este período são feitas amostras que são exibidas aos membros. Porém, tanto o Spawn quanto o Palhaço são obrigatórios nas bandeiras, independente do tema, e a cada 2 anos eles são reutilizados.”
Para a compra de materiais para a confecção das fantasias ele nos diz que as contribuições são feitas através dos próprios membros através de parcelas mensais além de venda de produtos com o logotipo da turma como copos, camisas e chinelos. Todo dinheiro arrecadado é usado para a aquisição de tecidos, glitters e outros itens que são usados nos bate-bolas.
“A cada reunião o membro contribui com um parcela porém não é fixa. Alguns que trabalham contribuem com R$ 100,00, porém o jovem ou adolescente que só tem condição de dar R$ 10,00 ou R$ 20,00 é bem-vindo, mas a maior parte da arrecadação vem das vendas de camisas, bonés e outros produtos. Por exemplo, se há um churrasco, ao invés de ter copo descartável, nós vendemos os nossos copos. Daí começamos a montar o nosso fundo para ter o bate-bola.”
Para arrecadar fundos para a confecção das fantasias, a turma vende vários produtos como bonés, camisas, chinelos e copos
Após fazer a arrecadação do dinheiro, tanto da venda de produtos quanto das parcelas do membro Bruno, junto com outros membros, se encarrega de comprar os materiais necessários para preparar as fantasias que são confeccionadas por eles mesmos em espaços nas casas dos próprios membros, onde a cada ano é eleito entre eles um local que servirá como “barracão”, que pode ser uma varanda, terraço ou garagem.
Bruno também conta que, em 2015, a turma fez um trabalho social com a comunidade para a doação de fantasias para crianças carentes e assim participar do bloco. Além disso, como no próximo ano a turma completará 20 anos de existência, o preço das fantasias foi reduzido pela metade para que todos pudessem participar e comemorar o aniversário, tanto os que têm renda baixa quanto os que têm renda alta. E assim é trabalhada a solidariedade entre os membros, independente de sua classe social.
E sobre Todd McFarlane, o que será ele deve pensar em ver sua Cria do Inferno desfilando no Carnaval do Rio de Janeiro? Segundo Bruno, eles nunca foram procurados pelo artista…
“Até o momento não fomos procurados, mas se o Spawn Brasil intermediar o encontro, a gente topa!”
Para finalizar, Soldado deixa uma mensagem de futuro e esperança para todos: “Basta acreditar que temos momentos bom e ruins, mas é como um casamento: é um sobe e desce mas sempre estamos confiante que uma hora vai melhorar. Em 2020 faremos 20 anos e nossa meta e colocar 100 adultos para desfilar.”
Confira abaixo a galeira de imagens as fantasias da turma Irritação:
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