Conheça a história da torcida organizada que adotou o Soldado do Inferno como seu símbolo nos estádios
Não é de hoje que a ligação entre torcidas de clubes esportivos e personagens das HQs e desenhos animados existe, porém nos últimos tempos esta ligação ficou mais estreita devido à popularização dos filmes de super-heróis da Marvel e DC.
Nos anos 90, no auge da NBA, o time do Charlotte Hornets ficou popular, principalmente no Brasil, ao exibir personagens da turma do Looney Tunes em suas camisas e bonés. No futebol, muitos associam o Zé Carioca como o mascote do Palmeiras, sendo que o personagem é um papagaio, erroneamente confundido com o mascote oficial do alviverde que é um periquito. Porém o nosso representante verde da Disney é mascote oficial do time do Madureira Futebol Clube, do Rio de Janeiro.
Hulk, além ilustrar os bandeirões do Palmeiras, é mascote de vários outros times como o Boavista Sport Club e Associação Atlética Coruripe. Até o Superman serviu de inspiração para o mascote do Esporte Clube Bahia, cuja versão criada pelo cartunista Ziraldo é a mais popular. Porém, é no Ceará que encontramos um mascote “inusitado”, mais especificamente no Movimento Organizado Força Independente, conhecido como MOFI, que acompanha os jogos do Ceará Sporting Club e incentiva o time alvinegro à vitória. O seu mascote? Nosso soldado do Inferno, Spawn!
Fundado em 04 de abril de 2003 por um grupo de amigos para apoiar o time, o MOFI começou a ter grandes proporções dois anos depois quando surgiu seu primeiro bandeirão exibindo o personagem criado por Todd McFarlane, e sua história é bem curiosa.
“Tudo começou quando eu e mais dez amigos (Simão, Josefir, Anderson, Leandro, Júnior Vela, Renatinho, Aluísio, Júnior Pereba e Robson) resolvemos montar uma torcida organizada após conflitos com os membros da outra torcida que fazíamos parte, a Fúria Jovem”, conta Gledson Lima, um dos fundadores. “Além disso havia muitas brigas com outras torcidas, como a Cearamor e também conflitos com a diretoria do time pois havia um clima de ditadura. Com a intenção de mudarmos este panorama, decidimos criar o MOFI, onde pregávamos a mudança e a paz nos estádios.”
Assim, os ex-membros decidiram que criariam uma nova torcida, porém era necessário ter o seu mascote que os representassem nos jogos. Foi então que algo diferente foi sugerido:
“Na primeira reunião tínhamos que escolher um mascote mas tinha que ser algo diferente do que era usado por outras torcidas. Foi então que um dos membros levou duas revistas do Spawn para saber o que achávamos. Nós gostamos muito do visual e resolvemos adotar o seu símbolo como nosso logotipo.”
Segundo Gledson, a escolha do Spawn como mascote do MOFI foi imediata. “Ele disse que tinha passado numa loja e viu a revista do Spawn. Acabou gostando do visual do personagem e seria uma boa ideia usar o seu logotipo, que possui as cores preta e branca, as mesmas cores do time do Ceará.“
Ao contrário do que se pensa, nenhum dos membros era fã do Spawn ou tinha lido alguma de suas histórias, e seu único conhecimento vinha do filme de 1997. “Nenhum de nós colecionávamos a revista. Nós apenas olhamos a HQ do Spawn, nos simpatizamos com o personagem e o adotamos, embora já o conhecêssemos como o Soldado do Inferno por causa do filme.”
Porém, um detalhe não deixa de passar despercebido: a cor vermelha, característica marcante do visual do personagem em sua capa, manopla e botas, foi substituída pela cor verde. Gledson explica o motivo:
“A cor vermelha é utilizada pela torcida do time rival (Fortaleza), então decidimos substitui-la pela cor verde, que estava presente no logotipo dele quando vimos pela primeira vez. Assim, quando pegamos uma arte dele, fazemos a troca do vermelho para verde.”
Outro detalhe interessante é o fato da torcida não ser chamada de “Torcida” como acontece no mundo do futebol. Inicialmente ela se chamaria Torcida Força Independente (TFI), mas acabaram mudando também para que se destacassem entre os demais, assim como a escolha de Spawn, ficando como o Movimento Organizado Força Independente (MOFI).
A estreia do MOFI com seu novo mascote ocorreu em 02/05/2003 em um jogo do Ceará contra o Caixas pela Série B do Campeonato Brasileiro cujo resultado terminou em 1 X 1. Porém, uma fatalidade quase pôs fim à torcida. Em outubro daquele ano torcedores do Fortaleza invadiram uma serigrafia e mataram um torcedor do Paysandu, que estava no estado para confeccionar camisas para a torcida, e também José Renato de Souza (Renatinho), de 18 anos. Abalados, os membros decidiram acabar com a torcida mas a própria mãe de Renatinho pediu para que eles continuassem. A matéria completa sobre este caso encontra-se aqui.
Hoje Spawn ilustra vários materiais da MOFI como camisas, agasalhos e bonés. Em jogos do Ceará a torcida comparece com bandeiras, instrumentos musicais, faixas, escudos e até criaram um mosaico gigante com o logotipo.
Atualmente a torcida, que possui mais de 2.000 membros, mantém uma sede social (que já teve academia de artes marciais), lojas com materiais promocionais e possui uma das maiores baterias do nordeste, além de ser uma das torcidas mais animadas nas arquibancadas.
Alguns dos uniformes utilizados pela torcida
Além disso, o MOFI também mantém trabalhos sociais como projetos de cursos gratuitos, Natal Sem Fome e Dia das Crianças. O próprio Gledson tem o seu projeto de curso de envelopamento e criação e aplicação de papel de parede com o intuito de ressocializar ex-detentos e assim dar uma segunda chance a todos para ingressar no mercado de trabalho. Além disso, o MOFI também ajudou as vítimas do desabamento do prédio em Fortaleza que ocorreu em outubro, abrigando-as em sua sede social. Quanto ao relacionamento com a diretoria do Ceará, atualmente as brigas acabaram e são fornecidos ingressos e espaço cativo no estádio Castelão.
E quanto ao criador, Todd McFarlane, será que ele sabe que seu personagem é usado em estádios de futebol? Segundo Gledson eles nunca foram procurados pelo artista. “Nós escolhemos o seu personagem por acharmos que ele tinha um visual legal, porém nenhum de nós acompanhou suas histórias. Seria muito legal se formos reconhecidos por ele e ele apoiasse nossa torcida.”
Para conhecer mais sobre o Movimento Organizado Força Independente acesse sua página no Facebook
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