Quando a equipe do Spawn Brasil participou das lives nos canais do Mundo Gonzo e Pelas Barbas de Odin um assunto pegou muita gente de surpresa que foi a história de um roteirista que escreveu 15 números de Spawn (edição #201 a #215, inéditas no Brasil) chamado Will Carlton e que teve boa recepção da crítica. Na época do anúncio de Todd McFarlane muita gente tentou buscar informações sobre este roteirista que iria iniciar uma nova fase na revista junto com o desenhista Szymon Kudranski porém o resultado mostrou-se infrutífero: ninguém sabia quem ele era! Ele nunca tinha escrito nada para a Marvel, DC, Image ou qualquer outra editora de quadrinhos nos Estados Unidos ou em qualquer parte do mundo! Embora fosse uma espécie de “fantasma”, Carlton existia e até concedia entrevista para diversos sites como ComicMonsters, Bleeding Cool e até mesmo o brasileiro Omelete chegou a noticiar sobre o novo contratado da TMP.

Página de expediente da edição #201 com a estreia de Will Carlton

Foi então que Todd McFarlane concedeu uma entrevista para o site ComicBuzz em 29 de fevereiro de 2012 e revelou que, na verdade, Will Carlton foi um pseudônimo que ele criou para si mesmo! Isso significava que McFarlane sempre esteve à frente dos roteiros muito antes de ele ter criado esta “persona”.

O link que apontava para a página original do site não está mais disponível assim como todas as entrevistas que “Will Carlton” concedeu (supõe-se que tenha sido uma espécie de represália por entrevistarem um roteirista fake), mas nós conseguimos resgatá-la! Nela, Todd conversa com Adam Messinger, do site ComicBuzz, durante ImageComicExpo em Oakland, Califórnia, e faz a grande revelação pela primeira vez, além de falar de temas como projetos futuros e conselhos para novos desenhistas. A entrevista completa transcrevemos abaixo:

Nota: como a entrevista foi concedida em 2012 muitas das informações eram segredos na época.


Adam Messinger: O que o futuro reserva para Todd McFarlane Productions? Você tem mais projetos à vista?

Todd McFarlane: Obviamente, temos Spawn. Fizemos 15 edições no ano passado com a mesma equipe criativa. Acho que esta é a primeira vez na história dos quadrinhos que 15 edições saíram em sequência com a mesma equipe de arte e redação. Podemos realmente ter feito algo que ninguém mais fez e ninguém estava realmente prestando atenção nisso. Vamos trazer mais 12. Estamos chegando ao 20º aniversário do Spawn. Essa será a edição 220. Vou embarcar e fazer as capas começando com essa edição. Vou começar a fazer algumas coisas estúpidas. Eu tenho escrito a revista. Sabe, ninguém realmente prestou atenção, mas houve um cara que assumiu o livro na edição 201. Um escritor chamado Will Carlton. Na verdade, era eu escrevendo sob um pseudônimo. Então, tenho escrito o livro desde a edição 185 sem parar. Quando digo que 15 edições foram feitas pela mesma equipe, eu sei disso porque fui eu quem escreveu tudo isso. Temos outro título que planejamos lançar. Temos o artbook de McFarlane que é uma espécie de retrospectiva da minha carreira (Nota: trata-se do livro The Art of Todd McFarlane).

Obviamente, continuamos a trabalhar em outras áreas como videogames. Acabamos de lançar The Reckoning da EA. Faremos um anúncio na próxima semana sobre algumas outras informações desse jogo (Nota: McFarlane fala do jogo Kingdoms of Amalur: Reckoning lançado para PC, Xbox 360 e Playstation 3). Temos um grande jogo MMO que deve ser lançado no final do ano.

Estamos começando a nos esforçar para ter o filme de volta. Isso ajudará a impulsionar todos aqueles outros elementos com os quais as pessoas estavam acostumadas quando Spawn foi lançado e chegou ao topo das paradas. Estou na metade do roteiro. Eu sou o empecilho. Eu sou sempre o empecilho. Temos pessoas prontas para colocar o dinheiro. Eu tenho um ator vencedor do prêmio da academia que me liga toda semana e veio ao escritório para dizer que está dentro (Nota: McFarlane provavelmente está falando de Jamie Foxx, vencedor do Oscar de melhor ator pelo filme Ray de 2005). Temos um ator pronto para ir. Eu posso direcioná-lo. Essa foi a negociação. Temos a animação que estamos tentando empurrar colina acima.

Tenho certeza de que estou perdendo algumas outras coisas, mas continuamos ocupados. Não se preocupe comigo. Minhas mãos não ficam ociosas com muita frequência e eu treino uma pequena equipe. Estamos bem.

Adam: Há algum momento que colocou no papel que se destaca para você ou um momento de maior orgulho em seus últimos 20 anos com Spawn?

Todd: Não, e só digo isso porque acho que sou diferente de todo mundo. Amanhã é sempre o melhor dia para mim. Eu sempre esqueço. Alguns caras me lembraram ontem de algumas coisas que fizemos ao longo dos anos e das quais esqueci. Eu estava tipo “Oh, sim! Isso mesmo! Isso foi muito importante quando fizemos isso ou fizemos aquilo!” Não sei. Nunca fui bom em lembrar o que aconteceu ontem. Eu tive muito mais pessoas me dizendo o que eu fazia em jogos de beisebol quando eu estava jogando. ”Lembra de que você ganhou aquele jogo, Todd?” Não, não, eu não. Eu não me lembro disso. Tenho certas lembranças do ensino médio, mas não vívidas.

Em 20 anos, eu sei que crescemos com um punhado de quadrinhos de super-heróis e no período trocamos de parceiros, como trazer alguém como Robert Kirkman. Olhando ao redor desta sala, há muitos livros ecléticos agora. Nem todos são caras musculosos em spandex apertado. Nós meio que continuamos a evoluir e sobreviver no meio dos quadrinhos. Não, por qualquer sucesso que tive ontem, sempre acho que posso dobrá-lo no dia seguinte. É uma espécie de senso de autoconfiança e um pouco de arrogância da minha parte. Acho que amanhã sempre será o melhor dia que terei neste planeta.

Adam: Ao longo dos anos, com o seu desenho, percebi que você se tornou mais seletivo quanto aos projetos que escolhe. O que faz você fluir e pensar “Eu tenho que desenhar isso!”?

Todd: É interessante porque ainda faço muitos desenhos. Porque eu evoluí artisticamente para longe de ser um cara de quadrinhos em tempo integral, as pessoas pensam que eu simplesmente não desenho. Tenho repetido isso ao longo dos anos. Eu faço muitos desenhos para os brinquedos, eu faço muitos desenhos para os videogames e estamos fazendo coisas na animação. Se estou dirigindo um videoclipe, faço muitos desenhos conceituais.

Só que nas histórias em quadrinhos tudo o que você desenha é impresso. As pessoas se acostumaram com “Todd desenha, a gente imprime”. Não é mais verdade. Há muitas coisas nos bastidores que eu faço. Além disso, o motivo pelo qual você não vê tanto é porque estou envolvido com coisas em que há colaboração. Hoje videogames, fazer filmes e animações, leva dezenas ou centenas de pessoas para tirá-lo do papel. Uma pessoa não pode ser “o cara”.

Quanto aos quadrinhos, você entra em uma sala, desenha, dá para eles, eles publicam. É tudo você naquele ponto, especialmente se você estiver escrevendo, desenhando e arte-finalizando como eu costumava fazer. As pessoas não entendem muito bem que ainda há muita arte saindo de minhas mãos. Eles simplesmente não estão conseguindo ver isso. O que eles estão vendo é o resultado final disso. Então, se você gosta do brinquedo, do videogame ou do videoclipe que fiz, o resultado final foi que eu estava fazendo a arte de todo aquele projeto.

Até dirigir é arte. Depende da sua definição de arte também. Se você está dirigindo algo, isto ainda é arte em seu cérebro e colocando em filme. Não está desenhando em um pedaço de papel. Eu apenas continuo onde a oportunidade bate e escolho entre A.) Eu digo “Uau! Isso seria legal de fazer!” do ponto de vista pessoal ou B.) “Isso seria bom fazer do ponto de vista empresarial. Se eu fizer isso, acho que ajudará a impulsionar alguns dos outros produtos da minha empresa.”

Adam: Você tem algum conselho para um futuro criador que queira entrar na indústria?

Todd: Meu palpite é que não é muito diferente do que era 20 anos atrás quando eu cheguei. Você tem que pegar seu portfólio, bater na porta de todo mundo nas convenções, enfiar debaixo do nariz de todo mundo, mandar pelo correio, e mais, e mais. Basta ser implacável. Eu conheci pessoas antes ao longo dos anos que meio que foram rejeitadas uma, duas ou quatro vezes, e elas estão prontas para jogar a toalha? A menos que você seja um superstar, artisticamente, nesse ponto, você não vai conseguir nas primeiras quatro das cinco vezes. É como ser ator. Você não vai conseguir o papel na Broadway. Você tem que começar de algum lugar. Você tem que conseguir o trabalho comunitário e depois subir. Você só tem que ser teimoso.

A outra parte é que você não precisa ser um artista tão completo quanto você pode imaginar. Eu, como um desenhista de quadrinhos que desenha e arte-finaliza, tenho que saber desenhar carros, pessoas, edifícios e fazer iluminação e sombras. Você escolhe, eu tenho que ser capaz de desenhá-lo. Você pode ganhar a vida muito bem em Hollywood, no negócio de videogames e em outras áreas, bastando fazer uma boa iluminação, se você puder apenas fazer ótimos efeitos sonoros, se você puder fazer ótimas letras, se você puder apenas fazer grandes armas, se você puder fazer ótimas roupas. Existem pessoas que ganham a vida e um bom dinheiro fazendo apenas um desses pequenos segmentos. Se você tentar em uma área e não conseguir entrar, talvez fique um pouco míope com seus talentos. Diga “Acho que meus pontos fortes estão aqui. Eu vou apenas fazer essas duas coisas. Eu sou bom em figurino, mas esqueça, eu não consigo desenhar o corpo humano muito bem.” Pare com isso. Basta se tornar um figurinista. É uma vida honesta.


Após esta entrevista o nome “Will Carlton” foi descontinuado e Todd passou a assinar os roteiros com o seu próprio nome a partir da edição #216. Porém nunca ficou exatamente claro sobre os motivos que levaram o artista a usar um pseudônimo. Segundo algumas informações não-oficiais, tratava-se de uma crítica do próprio do próprio Todd contra a indústria dos quadrinhos que ironizou os primeiros anos da Image já que nenhum dos fundadores eram escritores. Como o nome de McFarlane já estava “estigmatizado” por conta deste período, ele quis provar que seu nome não era indicativo de más histórias, assim criou um personagem de si mesmo e a indústria teve que aceitar o fato de que ele sabia escrever.

E sobre o nome “Will Carlton”, qual seria a origem? Também não há uma explicação oficial, mas segundo um grupo de fãs americanos, trata-se de uma homenagem de Todd McFarlane ao seriado The Fresh Prince of Bel-Air, conhecido no Brasil como Um Maluco no Pedaço, estrelado por Will Smith (fazendo o papel dele mesmo) e Alfonso Ribeiro (que interpreta o inesquecível Carlton Banks).

Will Smith e Carlton Banks teriam sido homenageados no pseudônimo criado por Todd McFarlane

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