Quando pensamos em Todd McFarlane e Frank Miller fazendo um trabalho juntos a primeira coisa que pensamos é sobre o crossover que ambos fizeram em Spawn/Batman lançado pela Image Comics em 1994 onde o Cavaleiro das Trevas e o Soldado do Inferno se aliavam para deter uma ameaça após um desentendimento inicial, o que era muito comum quando este tipo de encontro entre personagens de diferentes editoras acontecia. Porém engana-se quem acha que este foi o primeiro trabalho em conjunto dos dois artistas; na verdade ambos já tinham atuado em parceria há 35 anos atrás.

Segundo o livro The Art of Todd McFarlene – The Devil’s in the Details (leia nosso review completo aqui), o artista conta como foi a primeira vez em que ele trabalhou com Frank Miller, mais especificamente na minissérie The Dark Knight Returns (conhecida no Brasil como Batman – O Cavaleiro das Trevas), obra lançada em 1986 e que foi um dos responsáveis por estabelecer o padrão de quadrinhos “adultos” no mercado americano além de consolidar Batman como um dos personagens mais importantes das HQs.

“Uma história divertida sobre Frank Miller é que eu fiz a arte-final de alguns cenários de fundo da minissérie Batman – The Dark Knight Returns“, conta McFarlane. “Aconteceu enquanto eu morava com um amigo. Ele se tornou assistente de arte de Klaus Janson, que era arte-finalista principal da minissérie”.

Batman – The Dark Knight Returns inaugurou uma parceria indireta entre McFarlane e Miller

Este tipo de prática não é incomum no mundo dos quadrinhos. Devido a prazos apertados de entregas vários artistas subcontratam profissionais para auxiliar nos desenhos, letras, arte-final etc. No Japão, por exemplo, são contratados arte-finalistas para trabalhar apenas com paisagens urbanas das histórias, elementos da natureza etc. Dessa forma, o artista principal se preocupa apenas com os desenhos principais da história e, desta forma, agiliza a produção da mangá. Estes artistas “terceirizados” raramente recebem créditos e, no caso de The Dark Knight Retuns, não foi diferente.

McFarlane continua sua história, contando como conseguiu participar deste histórico projeto: “Então Klaus veio e despejou um monte de páginas para o seu assistente e disse que precisava delas finalizadas no fim de semana. Então ele virou para mim e disse ‘Ei, Todd, você pode me ajudar com essas páginas?’ Embora eu tenha trabalhado em ‘Infinity, Inc.’ (Corporação Infinito no Brasil) por dois anos e começado a fazer The Incredible Hulk’, eu disse ‘Oh, meu Deus, estou arte-finalizando ‘The Dark Knight Returns’ – este é o ponto mais alto da minha carreira! Ninguém saberá sobre isso, mas…’ Foi um momento realmente legal.”

Cena de The Dark Night Returns #2

Segundo McFarlane, Frank Miller jamais soube sobre a participação do futuro artista superstar em sua obra. “Até hoje eu não sei se Frank sabia disso. Eu lembro das páginas também. Batman estava vestido como uma senhora e reclamava do preço das mercadorias. Naquele tempo, naturalmente, eu não tinha ideia que terminaria trabalhando com Frank Miller mais tarde no meu próprio projeto com Batman.”

The Dark Knight Returns #3, página 4. Parte da arte-final foi feita por Todd McFarlane

Posteriormente Frank Miller e David Mazzuchelli conceberam Batman – Year One (lançada no Brasil como Batman – Ano Um). A história foi uma redefinição da origem do herói contendo os elementos adultos vistos em The Dark Knight Returns e foi publicada em 1987 na revista Detective Comics entre os números #404-407. Posteriormente, entre os números #575-578, seria lançada a continuação da história: Batman – Year Two. Desta vez a história foi escrita por Michael W. Barr e inicialmente contava com a arte de Alan Davis, que acabou desenhando apenas a primeira parte, e foi substituído por Todd McFarlane no número seguinte. A importância deste trabalho é o fato de McFarlane ter dado sequência a um trabalho iniciado por Miller.

“Eram 12:15h e o telefone tocou. Eram Pat Bastienne e Dick Giordano. Eles disseram que Alan Davis tinha saído de ‘Batman – Year Two’ depois do primeiro número e estavam procurando alguém para finalizar o arco”, conta McFarlane. “Eles se lembraram que, quando eu saí da DC, tinha dito que gostaria de voltar e fazer um título do Batman. Em questão de segundos eu disse ‘Sim'”.

Em Detective Comics #576 Todd McFarlane faz sua estreia com Batman

No ano 1992 McFarlane saiu da Marvel e, junto com outros artistas, fundou a Image Comics e no primeiro número de Spawn já vemos uma grande influência do trabalho feito por Miller em The Dark Knight Returns: a narração da trama era intercalada com imagens de noticiários onde repórteres contavam, a partir de seu próprio ponto de vista, os estranhos acontecimentos na cidade de Nova York. Este tipo de artifício também foi bastante utilizado no filme RoboCop, do diretor Paul Verhoeven, de 1987, um ano depois do lançamento da minissérie do Batman. Aliás, Frank Miller escreveu os roteiros para RoboCop 2 e 3 mas não conseguiu aprovação em Hollywood.

Em seu primeiro ano com Spawn, ele convidou diversos artistas de peso para escrever uma aventura de seu personagem. Na edição #11 (correspondente à edição #10 brasileira) Frank Miller foi convocado para escrever sobre uma guerra entre gangues. Foi a primeira parceria direta entre os dois artistas e que iria se repetir no ano seguinte.

A edição #11 de Spawn, lançada em junho de 1993, foi escrita por Frank Miller

Em 1994, com Spawn no auge de sua popularidade, foram anunciados dois crossovers do Soldado do Inferno com o Cavaleiro das Trevas. Publicado pela Image Comics, Spawn/Batman teve arte de Todd McFarlene, roteiro de Frank Miller e fez bastante sucesso. Para promover o encontro diversas imagens foram publicadas como forma de divulgação. A capa da edição #32 da revista Wizard, lançada em abril daquele ano, estampou uma arte de Miller com os dois personagens. Além dela, outras publicações também exibiram diversas artes promocionais para promover o histórico encontro.

Capa da edição #32 da revista Wizard promovendo o crossover Spawn/Batman. Arte de Frank Miller
Pôster promocional encartado na revista Wizard #32
Pôster promocional do crossover
Arte original para a capa da edição 91 da revista Comics Value Montlhy por Todd McFarlane
Revista Comics Values Monthly #91. Arte de Todd McFarlane
Capa da revista Inside Image #13. Arte de Todd McFarlane

Na história, Batman chega à cidade de Nova York em busca de um arsenal de armas e robôs de alta tecnologia que usam cabeças humanas decapitadas como cérebro. Antagônicos, confrontadores e desconfiados um do outro, Spawn e Batman se envolvem em batalhas violentas antes de perceberem que estão atrás do mesmo vilão. A contragosto, eles decidem trabalhar juntos. A pessoa que procuram está sequestrando e decapitando moradores de rua para usar nos robôs, mas isso é apenas parte do plano: há também um arsenal nuclear pronto para ser implantado.

Capa final do crossover Spawn/Batman, com roteiro de Frank Miller e arte de Todd McFarlane

Uma curiosidade sobre este crossover é que ele se ambienta no mesmo universo da minissérie The Dark Knight Returns criado por Frank Miller, ou seja, não segue a cronologia oficial da DC Comics. Assim, ela se passaria anos antes da minissérie original e também das suas sequências: The Dark Knight Returns: The Last Crusade (Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada), Batman: The Dark Knight Strikes Again (Cavaleiro das Trevas 2), Batman: The Dark Knight: Master Race (Cavaleiro das Trevas 3: A Raça Superior) e Dark Knight Returns: The Golden Child (Cavaleiro das Trevas: A Criança Dourada).

Pela DC Comics também foi lançado outro encontro entre os dois personagens. Intitulado Batman/Spawn: War Devil (Guerra Infernal, no Brasil), o crossover foi escrito por Doug Moench, Alan Grant e Chuck Dixon e desenhado por Klaus Janson, curiosamente o arte-finalista que trabalhou em The Dark Knight Returns e o qual McFarlane auxiliou no passado. Assim como o outro encontro lançado pela Image Comics, este também não faz parte da cronologia oficial da DC Comics mas sim da linha Elseworlds (conhecido como Túnel do Tempo no Brasil).

Capa de Batman/Spawn: War Devil. Arte de Klaus Janson

Frank Miller voltaria a desenhar Spawn por mais duas vezes: em um pin up publicado na revista Spawn com o mesmo estilo que o consagrou na série Sin City e também contribuiu para uma das capas variantes para a histórica edição #100.

Pin up feito por Frank Miller para a revista Spawn
Arte para a capa variante da edição #100 por Frank Miller

A última “parceria” entre os dois aconteceu em 2012 quando Todd criou uma série de capas homenageando outras obras dos quadrinhos. A edição #224 trouxe uma reprodução da capa de The Dark Knight Returns #2, cuja arte original é de Frank Miller.

Todd McFarlane homenageou Frank Miller e sua minissérie The Dark Knight Returns em Spawn #224 reproduzindo o seu estilo.

Esta relação entre Spawn e Batman criada pela obra de McFarlane e Miller é de tão grande importância que foi levada além dos quadrinhos. No jogo Mortal Kombat XI onde Spawn é um dos lutadores convidados há um importante diálogo entre ele e Raiden antes de iniciar o combate. Spawn é informado pelo Deus do Trovão que ele lembra outro “cavaleiro das trevas”, e nesse momento o Soldado do Inferno responde: “O cavaleiro de um bilhão de dólares? Eu conheço ele.”

Este e outros diálogos de Spawn em Mortal Kombat XI você pode conferir em nosso vídeo abaixo:


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